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No do Enase dedicado a debater a necessidade de alterações e maior integração entre o planejamento de expansão das renováveis com o sistema de transmissão, a crise dos cortes de geração, os impactos cada vez maiores com as mudanças climáticas e o desafio de incorporar essa nova realidade aos ativos de infraestrutura no processo inédito de licitação de concessões ecoaram como os assuntos principais.

Entre as novidades, o diretor do Departamento de Planejamento e Outorgas de Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica e Interligações Internacionais do Ministério de Minas e Energia, Guilherme Zanetti, destaca que a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) deve entregar nesse ano a metodologia para precificar o custo-benefício de investimentos que podem ajudar a absorver geração frustrada de energia no setor elétrico, um dos principais temas do momento, assim como a MP 1300.

“Muitas questões colocam as baterias como solução para absorver essa energia jogada fora, mas isso tem um custo que terá que ser avaliado”, sinaliza. Entre as novas propostas para mitigar o curtailment que estão sendo debatidas no Grupo de Trabalho criado em março, ele aponta uma alternativa a partir de sinais econômicos de leilão e de preço, para que os geradores se coloquem em posições mais favoráveis para escoamento de energia no sistema.

Zanetti também afirma que a atualização regulatória e ações de planejamento de médio e longo prazo sobre o assunto envolvem o desenvolvimento de novos estudos de expansão de transmissão, com a indicação de um novo bipolo de corrente contínua na região Nordeste, cujo conteúdo será finalizado em 2025, assim como outro específico sobre alocação de novas cargas na região.

“Todos os ativos novos e existentes vão ar por uma avaliação criteriosa da EPE, que irá analisar quais fatores devem ser indicados para um novo contrato”, indica, referindo-se à incorporação de uma nova realidade de operação no setor com o crescimento dos efeitos das mudanças climáticas e a necessidade de soluções que dialoguem com os conceitos de resiliência, flexibilidade e adaptabilidade da rede elétrica. “Os critérios serão aplicados aos projetos brownfield e greenfiled da mesma maneira”, salienta o diretor.

Geração de energia frustrada, impactos das mudanças climáticas e o desafio de incorporar essa nova realidade ao setor centralizaram o debate em no Enase (Tulio Thomé)

Regulamentação não absorve impactos

A Consultora de Projetos de Infraestrutura do BTG Pactual, Gabriela Desiré, ressaltou em sua fala que o curtailment não é algo novo para o setor, lembrando da época em que analisava os contratos na State Grid Brazil, em 2016, e que o fenômeno aumentou porque a região de segurança ficou mais delimitada depois do apagão de 2023 e a necessidade dos players das renováveis variáveis e o ONS vencerem o desafio de conferir os ajustes em campo e nos equipamentos.

“Enquanto essa equação não ficar bem definida o ponto de equilíbrio não vai voltar”, analisa, referindo-se a questões dos SEPs (Sistemas de Proteção Especial) e da resposta das usinas aos comandos do Sistema Interligado Nacional. Ela compara também os cortes na geração com os efeitos que as redes de distribuição vêm sofrendo em termos de impactos com eventos climáticos cada vez mais extremos. Com ambos os temas ainda não contando com uma regulamentação que absorva esses impactos.

Gabriela reforça que o investimento em novas tecnologias para maior observabilidade do sistema é um dos caminhos, com muitas empresas aplicando recursos em sensoriamento, interligação de rede de sensores, inteligência artificial e machine learning para previsibilidade dos eventos críticos. Mas argumenta que não adianta avançar nessas frentes sem uma maior capacitação das equipes, sobretudo no aprimoramento dos planos de contingência e para evolução dos indicadores de qualidade na gestão dos ativos. O que faz com que toda regulação tenha que evoluir também.

“Alguns investimentos têm vindo do P&D, mas por vezes o recurso é muito pouco”, opina. Outra visão, é que se por um lado o país lida com contrastes entre oferta da energia, bandeira vermelha, corte de geração por restrição da rede e dificuldades de expansão, por outro a inserção das renováveis e da MMGD também traz oportunidades de aporte em novas tecnologias como armazenamento, controle de potência e outros recursos que tragam estabilidade da rede. “O desafio é como de fato apoiar e remunerar adequadamente essas tecnologias e requisitos ao sistema”, conclui.

Eventos inevitáveis e imprevisíveis

A transmissão sempre foi vista como um ambiente com receitas estáveis, previsibilidade e bem regulado dentro do setor elétrico, mas quando Ricardo Cyrino assumiu como CEO da Evoltz, em 2022, conta ter se deparado com efeitos climáticos consideráveis impactando diversos ativos da companhia.

“Operamos a terceira linha mais longa do mundo no Bipolo Madeira e tivemos ventos e rajadas acima de 150 km/h que vieram a derrubar torres.”, lembra o executivo, citando ainda dificuldades recentes com a seca na Amazônia e a tragédia no Rio Grande do Sul. Segundo ele, são eventos inevitáveis e imprevisíveis, para ativos que foram concebidos há 20 ou 30 anos, sob uma outra ótica.

“A penalidade que o regulador interpreta como incentivo tem que ser tratada, com regras mais claras para as empresas manterem a disponibilidade em altos patamares”, aponta Cyrino, referindo-se às negativas da Aneel em reconhecer alguns desses impactos de tempestades e outros fenômenos climáticos como casos fortuitos de força maior.

Desafio atual do setor a pela busca dos melhores caminhos para maior resiliência, flexibilidade e adaptabilidade da rede elétrica (Tulio Thomé)

Também convidado para o Enase 2025, o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), Mário Miranda, ressaltou após vencer a batalha de oito anos envolvendo a Rede Básica Sistema Existente (RBSE), os esforços da entidade se voltam agora para o inédito processo de renovação para licitação das concessões vincendas da transmissão, por meio de Decreto 11.314.

“É um processo que não temos referência mundial e por isto temos que analisar todos os elementos para um caminho sustentável e com implementação otimizada”, afirma. Segundo o executivo, os riscos climáticos podem ser mensuráveis mas não se tem uma unidade de tempo de quantas vezes vão ocorrer, além do grau de afetação e intensidade, o que impulsiona o desafio do momento, da inevitabilidade.

“Não sabemos muito das mudanças climáticas. Temos equipamentos que ajudam, mas o que tem que melhorar é a capacidade de observabilidade desses fenômenos”, sinaliza, ressaltando que cerca de 70 mil km da atual malha de transmissão foi implementada considerando ventos máximos de 112 km/h, enquanto a constatação atual aponta para mais de 190 km/h, com esses ventos se espalhando pelo país.

“Nossa posição diante da natureza é reativa, pois não temos instrumentos para estimar um novo normal”, complementa, considerando os grandes grupos de concessão como mais preparados para fazerem as eletrogeografias de suas logísticas para atendimento e resiliência.

Sobre esse tema, Miranda informa que a Abrate quer delinear um acordo de cooperação com EPE e o ONS para apoio no gerenciamento de estudos visando o planejamento tecnológico para inserção de novos equipamentos. A ideia é avançar com um observatório de inovação, integrando fornecedores para busca dos melhores ativos e ferramentas computacionais para a transmissão conectar as fontes de geração aos consumidores. “Também fizemos um acordo agora com o Ibama, para intercâmbio de expertises e capacitação de equipes envolvendo o licenciamento”, conclui o dirigente.

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