O grupo Safira e Com Energia firmaram um contrato financeiro de energia. Diferente do que é realizado normalmente e registrado na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, esse contrato é bilateral e não envolve a compra física da energia, ou seja, o lastro. O contrato é puramente financeiro, com o objetivo de proteger a compradora, no caso a Safira, das flutuações do Preço de Liquidação de Diferenças.
Na operação, foi estipulado um preço fixo futuro para a energia entre as contrapartes. No mês de vigência do contrato, faz-se a liquidação, que tem como base o PLD. Nesse caso, a Com Energia foi quem ficou com o risco do contrato, como explicou Marcelo Parodi, sócio-diretor da empresa. "Para quem está comprando e fixa o preço, ele sabe que vai pagar aquele valor. Eu estou assumindo o risco da flutuação do PLD", explicou o executivo.
De uma forma simples, ele exemplificou que se o preço fixado for de R$ 100/MWh e no mês de vigência do contrato o PLD médio foi de R$ 120/MWh, a Com paga para a contraparte os R$ 20/MWh de diferença e ela pode ir ao mercado de curto prazo comprar a energia gastando apenas o preço fixado. Caso o PLD seja de R$ 80/MWh, a Com recebe os R$ 20/MWh da contraparte, que continua gastando os mesmos R$ 100/MWh.
A vantagem da operação, avalia Márcio Davanzo, gerente de Comercialização do grupo Safira, é conseguir fazer um contrato que não seja com o gerador. "Eu travei o meu risco do PLD, mas não precisei buscar lastro para entregar ao consumidor", comenta. Quando não era possível realizar o contrato financeiro, só se conseguia travar o preço da energia ao realizar contratos com os geradores, onde o lastro era incluído.
"A única coisa que eu fico no risco do lastro é o ágio. No PLD, que é muito mais volátil, onde eu tenho a maior parte do risco, não [fico no risco]", declarou Davanza em entrevista à Agência CanalEnergia. Atualmente, esses contratos puramente financeiros podem ser registrados tanto na Cetip, que é uma integradora do mercado financeiro, quanto na própria BM&F Bovespa. O contrato entre a Safira e a Com, segundo Parodi, foi registrado na BM&F Bovespa.
Tanto Parodi como Davanzo afirmam que esse mercado de contratos financeiros de energia tem crescido bastante e ganhado liquidez. Parodi explica que no mercado financeiro, os contratos não ficam s apenas aos players do mundo físico, que são os agentes da CCEE. "Qualquer entidade financeira pode negociar, seja um fundo, seja um banco ou uma corretora", apontou Paradi. Segundo ele, a Com tem sido bastante procurada para realizar esse tipo de contrato. "Tem empresas de fora do Brasil olhando esse mercado", contou.
O executivo comenta que quando o mercado americano saiu do contrato físico e ou a negociar também o contrato financeiro, o número de negociações aumentou oito vezes. Dado que hoje na CCEE estão registrados 40 mil MW em contratos no mercado livre, se for colocado um preço de R$ 100/MWh, isso daria R$ 35 bilhões por ano negociados no mundo físico. Segundo Parodi, usando a mesma proporção do mercado americano, ou seja, de oito vezes, o mercado poderia ir para R$ 280 bilhões.